O termo cunhado por arquiteta brasileira ganhou fama e diz respeito aos projetos voltados à segurança e ao bem-estar do público 60+
Na terceira idade, as quedas, em especial as que ocorrem em casa, tornam-se mais comuns. Para conscientizar as pessoas sobre o tema, 24 de junho foi instituído como o Dia Mundial de Prevenção de Quedas em Idosos.
Segundo informações do Ministério da Saúde, foram registrados 285 atendimentos de idosos por dia no Sistema Único de Saúde (SUS) causados por quedas nos dois primeiros meses de 2024. Entre janeiro e fevereiro, foram 17.136 atendimentos hospitalares e 9.658 atendimentos ambulatoriais envolvendo a faixa etária de 60 a 110 anos.
“Diversos fatores podem causar o aumento de quedas entre os idosos, como a fraqueza e perda muscular do corpo, os efeitos colaterais de alguns remédios, a perda de sensibilidade por distúrbios neurológicos, além de doenças ortopédicas ou prejuízo dos sentidos de visão e audição”, explica Marcelo Tadeu Caiero, presidente da Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico.
Ao pensar neste público e a fim de promover mais segurança aos idosos, a arquiteta Flavia Ranieri acabou cunhando o termo geroarquitetura. “Eu fiz pós-graduação em Gerontologia, justamente a ciência que estuda todo o processo de envelhecimento. Então, eu uni a minha formação em Arquitetura com a de Gerontologia, por isso veio esse termo geroarquitetura, que comecei a usar em 2018”, explica.
A expressão, que remete a uma arquitetura específica para o processo de envelhecimento, acabou se difundindo. Conforme a especialista, a geroarquitetura busca uma casa que possa envelhecer junto ao morador, sem que ele precise reformá-la para se adaptar às necessidades que chegam com a idade.
“Não é uma casa cheia de barras e soluções mirabolantes. Ela é uma morada tradicional, que, caso a pessoa necessite de cadeira de rodas, não precisa alterar para conseguir viver”, diz Flavia.
Além das questões estruturais da construção, como larguras maiores de portas e áreas de circulação, a ideia é pensar como a arquitetura pode compensar os processos naturais do envelhecimento.
“Vamos perdendo a visão, audição e a própria mobilidade. O organismo tem um declínio, que não significa que seja limitador, mas, com isso, começamos a nos preocupar com iluminação e acústica adequadas para que o idoso consiga conversar, escutar e ter um ambiente que seja seguro”, explica Flavia.
Segundo a arquiteta, para projetar um espaço à terceira idade é preciso olhar a longo prazo, fazendo um planejamento para que a residência se adapte e evolua com as necessidades. Criar uma residência extremamente “hospitalar”, segundo ela, quando ainda não é necessário, tem um impacto emocional muito grande no idoso.
“O ambiente não precisa ser inteiro adaptado, mas ele necessita estar preparado. Porque a pessoa está bem hoje, mas amanhã pode não estar. Você precisa visualizar longe, mesmo que só faça os primeiros passos”, destaca Flavia.
Como tornar os ambientes seguros
Uma série de itens deve ser observada na hora de projetar para a terceira idade. “Nos projetos para idosos focamos na acessibilidade, na segurança e no conforto. Precisamos fazer tudo mais fácil e seguro, com rampas no lugar de degraus, corredores largos e espaços mais confortáveis, que serão fáceis de circular e de usar”, fala a arquiteta Juliana Mohr, especialista em arquitetura hospitalar e sócia do escritório Seferin Arquitetura.
Um dos principais itens quem merece atenção e evita muitos acidentes é o piso. “Ele deve ser sempre antiderrapante na casa toda, não importa se a área é molhada ou não. Devemos ter pisos uniformes e sem desníveis ou degraus e também cuidar com a ilusão de ótica, usando cores neutras e uniformes, que permitem enxergar melhor o contraste dos objetos que caem no chão”, aponta Flavia.